Há não muito tempo a sociedade portuguesa viveu uma discussão pública sobre a tentativa de demolição de um símbolo de Portugal, o Padrão dos Descobrimentos, que alguns políticos chamaram “o monumento do regime ditatorial”.

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Passados poucos meses, o CEO do Taguspark inaugura em Oeiras a obra “Yuri Gagarin” oferecida pela embaixada russa, com evidente teor ideológico, onde o maior elemento da obra é o símbolo da URSS, um dos  regimes ditatoriais mais duros do século passado, que matou e pôs na prisão milhares de pessoas, principalmente representantes da elite cultural e científica. No seu discurso, o CEO do TagusPark disse: “a História deve ser respeitada”

Ora bem! Afinal “respeitar a história” em Portugal é dependente de quê? Da quantidade de gás e petróleo e da atual potência militar da Rússia? Ou dos antigos “comunas” da Rússia que roubam o próprio povo e com esse dinheiro compram imóveis na zona de Oeiras?

Yuri Gagarin realmente foi um homem corajoso. Mas para ele conseguir ser o primeiro homem a ir o espaço, 15 repúblicas da URSS tornaram-se um enorme campo de concentração, sem respeito pela vida humana e com uma pobreza total. O mais importante construtor dos foguetes espaciais, o ucraniano Sergii Koroliv, foi preso pelo regime soviético e libertado só porque necessitavam dele para construir mísseis para a Segunda Guerra Mundial.

Será que o CEO do TagusPark quer aplicar semelhante modelo de gestão para ter grandes conquistas na sua empresa? Tudo a custo da pobreza e liberdade dos portugueses. O programa espacial da União Soviética tinha principalmente como objectivo transportar mísseis nucleares para o espaço. Será que Portugal, com este “respeito pela história”, quer também homenagear a Guerra Fria?

Já agora, o vereador do Câmara Municipal de Oeiras, Nuno Neto, e o CEO do Taguspark, Eduardo Correia, perguntaram ao Embaixador da Federação da Rússia, Mikhail Kamynin, na inauguração da obra oferecida pelos russos, qual é o estado de saúde do líder da oposição, Alexei Navalny, que está preso numa das mais terríveis prisões da Rússia? Não lhe perguntaram quando tenciona a Rússia desocupar os territórios da Ucrânia, Geórgia, Moldávia e Chechenia? Também não questionaram os diplomatas russos sobre a razão de o seu estado estar a perseguir a activista que divulgou os vídeos que mostram a tortura e os abusos sexuais nas prisões russas? E os repórteres independentes e as organizações dos direitos humanos?

Gostei da reação negativa da maioria dos portugueses nas redes sociais à obra russa de “história de totalitarismo” em Oeiras. Mais uma vez mostraram que é um povo que quer viver numa sociedade livre e humana.

Mas realmente preocupa-me que alguns politicos e altos dirigentes em Portugal não tenham aprendido com os erros do passado. “Ofertas russas” já tornaram Cuba, Venezuela, Correia de Norte e dezenas outros países do mundo numa desgraça social e política com regimes totalitários. Será querem este futuro para o próprio país ou acreditam que ditadores como Putin ou o comunista Lukashenko da Bielorussia que ao oferecerem estas “prendas” vão um dia mudar para democratas?

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